domingo, 28 de novembro de 2010

Muros

Quantas vezes temos que nascer pra entender o que nos faz únicos? Qantas cordas temos que usar pra prender nossa conciência? De quantas pessoas temos que nos afastar pra sentir saudade? Qual a distância que temos de tomar pra ficarmos realmente sós? Às vezes olho pelo vidro da janela do ônibus, e sinto que o meu reflexo tá olhando pra mim, me observando. Quantas pessoas temos que perder pra valorizar? De quantos artifícios temos que usar pra convencer a nós mesmos que é melhor recuar? Quantos mundo temos que criar para poderfugir? Quantos muros temos que levantar, pra nos poteger?

sábado, 30 de outubro de 2010

Despedida

 Não gosto de pensar em despedidas. Mas às vezes, alguém vai embora tão rápido, e mesmo quando nos despedimos, parece que algo ficou faltando. Tem certas pessoas, que nunca se consegue despedir totalmente. Aquela que quando vai, fica impregnada na sua roupa, na sua casa, nos armários, no banheiro, na sua memória, nos seus sonhos... Tem gente que quando vai embora, leva consigo um pouco da gente. Ainda somos os mesmos, mas fica faltando um pedacinho, e não somos mais como antes. Nunca mais. E a saudade é pior do que morte. Tem gente que quando vai embora, deixa marcas no tempo.

domingo, 24 de outubro de 2010

luz dos meus olhos

E agora, não vejo mais o brilho nos meus olhos. Aquele amor refletido na minha retina, aquele que eu aprendi a ter pela vida, esse brilho ofuscou. Aquele jeito estranho de enteder as decisões do acaso, sem reclamar, esse jeito morreu. Aquela forma de fazer piada da desgraça e tranformar o tédio em melodia, esse jeito morreu. Talvez seja melhor assim. No entardecer, ficar alheio ao dia e a noite, e não se queixar do mundo. Ficar envolto à agitação urbana, suas poluições e não sentir saudade do campo.

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice,
que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
E nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Solidão

A solidão é um estado de ausência de si. Só que quando estamos nos sentido assim, temos a impressão errónea de que as pessoas que nos rodeiam podem resolver essa questão. Mas a verdade é que é bem mais simples, se você depender apenas de si. Quando nos sentimos sós, esperamos que a atenção dos outros seja alimento pra nossa alma. Quando na verdade, deixamos de fazer o nosso papel - ninguém deve fazer isso por nós, não devemos deixar que outros façam o que cabe a nós fazer - dar atenção a nós mesmos, suprir a necessidade da nossa alma, fazer o que gostamos, ouvir o que queremos, passear, em fim, fazer o que nossa alma precisa pra se sentir completa, independente dos outros. Quando percebemos que a solidão é quando deixamos de nos dar atenção, pra esperar atenção externa, é que ficamos tristes e frustrados. e se não é descoberto isso a tempo, pode se agravar, se tornando um caminho escuro sem volta. Mas a solidão, aquela que tanto tememos, às vezes vem pra que possamos descobrir quem somos. Ficar um pouco consigo, aprender mais sobre si. Só conseguimos isso, sozinhos. descobrir o que somos em essência, e assim conseguir completar o que falta.

Fotografias

Gosto de fotografias. É como se pudéssemos colocar clipes coloridos em momento que achamos importantes. Na maioria das vezes, lembram de como fomos felizes, num determinado momento da vida, porque geralmente tentamos registrar momentos que são especiais de alguma forma. E quando não é programado, a foto sai melhor ainda. Aquela coisa espontânea, o movimento borrado, a luz exagerada ou fosca, o fundo feio, ou sem contraste, a falta de pose, simplesmente uma fotografia da vida, um intervalo da linha do tempo congelada par sempre. As vezes, esses momentos podem nos servi de lição, ou de conforto. Uma fotografia pode servir para manter viva a memória de alguém, ou de um instante crucial. Aquele momento perfeito, que provavelmente nunca mais vai se repetir, e que ainda bem que você registrou.

sábado, 23 de outubro de 2010

Divina Comédia


A maquiagem esconde a ação do tempo. Esconde o correr frenético dos ponteiros do relógio. O sorriso também esconde a dor. Ele camufla o que se tem por trás da retina. Nem todo mundo que sorri está feliz. Alguns estão só tentando camuflar o que tem entalado na garganta. Alguns estão apenas tapiando o medo. Como diz a música "A QUEDA" do lobão: "Diante do medo o sorriso é aeróbico"... O palhaço nem sempre está feliz, apesar do constante sorriso no rosto. A maquiagem borra quando alguém chora. O sorriso enferruja quando estamos tempo demais segurando-o. E o show tem que continuar.

Tantinho


Paciência pra olhar o futuro, e não ansiar por ele. Deixar o passado guardado numa caixa, e enterrá-la bem fundo. Paciência pra assimilar a realidade, por mais difícil que pareça. Eu preciso de ferias de mim. Férias dos meus pensamentos. Preciso focar algum ponto, e me concentrar nele. Preciso de mais de uma porta para abrir. Mais de uma escala para subir. Preciso ignorar meus desejos, porque são fortes demais, e não os controlo. Preciso livrar-me da razão, que me impede de fazer o que eu quero. Preciso de mais que uma luz pra iluminar. Mais de uma caminho a seguir. Preciso de Férias dos meus fantasmas. Preciso de água fresca e um jardim. Algo que me faça esquecer o deserto e o som do vento que há nele. Preciso de mais que um amor. Preciso de mais de um de mim. Mais que uma árvore pra plantar,mais que um livro pra escrever. Preciso de tudo que há, e de mais um tantinho assim

Tristeza


A tristeza tem lá seus métodos de tortura. Ela manipula nossas mentes, com imagens falsas, com frases que ela sabe que você se sentiria muito mal se ouvisse... ela enfraquece seu sistema imunológico, deixando você vulnerável à resfriados e outras doenças irritantes... A tristeza é como uma moeda de duas caras. Porque também se pode curtir certa melancolia, certa tristeza. Meio maso, mas dá sim. Estranho dizer, mas quando estou triste, tenho a visão real das coisas. Quando fico triste, tenho noção exata do buraco à minha frente, onde, se eu escorregar, caio. É como se o véu que cobre o mundo caísse, como se eu arrancasse a máscara da vida e do mundo a minha volta quando fico triste. Uma alegria mórbida invade meu corpo.

Tempo


Tem muita gente preocupada com o caminho. Preocupada com o final do caminho. Tem gente passa a vida procurando seguir o que chamam de melhor caminho. Às vezes acho que algumas pessoas esquecem que, enquanto estão procurando o caminho certo, elas estão seguindo um único e definitivo caminho: o caminho do tempo. E esse caminho independe de vc achar ou não seu "melhor caminho"; A linha do tempo é comum à todos. E acho que esse deveria ser o único caminho que as pessoas devessem se preocupar de verdade. A certeza que temos, é o tempo real. Esse que vivemos neste exato segundo. Para o futuro, temos apenas fé. Fé, que tudo dê certo. Que de alguma forma, exista algo depois do caminho do tempo. Para o passado, temo a certeza do que se foi. Temos a experiência do caminhar da linha do tempo. E isso ajuda para andarmos melhor desse exato instante pra frente. Então por quê não viver esse caminho do tempo, o melhor que puder? Achar o caminho certo, tendo um outro caminho mais importante bem na nossa frente? Pra quê? Pra ficarmos frustrados, por não conseguir viver nem em um, nem no outro? Não. Eu prefiro correr contra a ampulheta. Viver bem. E intensamente. Aproveitar cada milagre chamado segundo. Segundos de vida, que se reduzem com o correr do ponteiro. Sim, esse é para mim, o caminho. Enquanto ficar hipotetizando o futuro, nunca viverei o agora, em sua plenitude. Não adianta buscar por filosofias, religiões, terapias, remédios... Seja vc. Seja a melhor pessoa que vc puder ser, e viva. Faça sua parte, na grande organização chamada universo. Siga o caminho do tempo, e nele apenas viva. Não fique à contar os passos dos ponteiros. Enquanto ele corre, viva.

Amanhecer


E no fim, não há um pote de ouro. As portas e janelas antes fechadas estão agora escancaradas para o novo amanhã. Que entre o vento frio, e a chuva, e as folhas, e a poeira, e o que mais puder trazer o vento. O café fresco de manhã traz lembranças de um tempo bom. O som da chuva lá fora batendo nas folhas é fascinante. O som da guitarra tocando no rádio provoca arrepios. O gato dorme no sofá. A louça limpa na cozinha deixa o ambiente mais agradável. Caixas cheias de objetos que antes estavam socados em gavetas e armários. No mais, um feriado.

Mudança


E mais uma vez, mudança. Mudança de hábito. De família. Mudança de aroma, de casa, de ano. Vou mudar também de humor. Muitas e muitas vezes. Vou oscilar. Vou perder a calma, beber, gritar, xingar aos 4 cantos da terra, colocar a culpa nos cromossomos, parar de respirar por um tempo, colidir com alguém na calçada e não me desculpar... Mudar de endereço. De personalidade. de Cultura. Vou comer com a boca aberta, cuspir no corredor do hospital, vou jogar meu amor na primeira lata de lixo que encontrar, sentar no banco da praça e chorar. Vou mudar de carreira. de peso, de altura, de cor. Por que não de sexo? Mudar de jeito. Mudar de moeda, de comédia pra terror, mudar de planeta... Sair do sarcasmo entrar na ironia e terminar em samba... mudar de coração. Esquecer o amor na caixa de correio. Embebedar o gato. Começar a fumar, desenvolver um câncer, doar um órgão... Mudar de rota. De caminho. Mudar a direção das coisas e das pessoas. Saír dos trilhos. Descarrilhar num penhasco e fechar os olhos. Não acordar. Sonhar com o impossível e fazer dele a verdade absoluta.

inside


Na minha mente tem cheiro de chá. tem bolo fresco de fubá e janelas abertas. Tem vento frio entrando pelas janelas abertas. Tem céu nublado. Na minha mente, tem árvores na paisagem. Tem montanhas verdes meio cobertas pela neblina. Isso, também tem neblina. Na minha mente, tem uma piano tocando. Também tem caneta e papel. Sai fumaça da minha xícara de chá. A música me dá calafrios, e o vento frio me deixa entorpecido. Na minha mente, sim, tem melancolia..

O caminhar


No chão a certeza do caminhar.
Andar de braços abertos esperando o vento na contra-mão.
Nas costas a mochila com suas lembranças.
A água que cai molhando o caminho não faz recuar.
Nem mesmo A febre dos tempos difíceis intimida a jornada.
Porque não há nada que faça valer a pena ficar inerte.
Não com tanto chão pela frente.
E no caminho, ficam os fracos que desistiram de caminhar.
E eles olham com dificuldade para a jornada dos que seguem,
e comentam entre si: "Não vamos conseguir".
Talvez não consiga. Mas há a certeza de que, se não conseguir chegar
há de valer a pena, pelo menos, o caminhar.

Thiago da silva B.

Escombros


Sobrou os escombros e a poeira que sobe e escurece o céu. O dia cinza que passa lento deixa triste o olhar de quem perdeu tudo. E não é perder algo, do tipo que se trabalha e se conquista de novo. É perder o olhar terno. É perder o olhar sedento que te desejava. É ver ir embora o amor, já frio, pela janela do ônibus. É acordar sem o interesse pela vida, porque o mesmo se esvaiu, enquanto dormia. E fica a sensação, de que tudo parece igual. o frio o calor, a fome. nada faz efeito. seu corpo não sente. A única coisa que realmente dói e o coração. Parece bater contra a vontade. A garganta se fecha e o ar encontra dificulade de passar. E não se consegue ver, da altura que está, nem sequer um fio de luz. Um grande poço onde no mais, o próprio eco faz companhia.

A carta de Annie Mc’findley”


Essa é a última vez que lhe escrevo. Foram seis anos de cartas, choros, medos. E dessa vez eu escrevo para dizer que minha bússola mudou.
Nesse intervalo de tempo, enquanto escrevia, minha vida parecia estar ancorada em alguma parte do mar, onde não se via nada além de água. E neste mesmo período, desde que você foi embora, a solidão ocupou seu lugar. Fincou sua cadeira na areia ao lado da minha, e, juntas, nós trocamos prazeres. As carícias da solidão são pesadas, mas confesso que me acostumei com elas, e, hoje sinto até falta, quando ela me deixa por muito tempo. Ela confessou gostar de mim. Fez também um pacto de sangue, no qual não me abandonaria, fosse o que fosse.
E foi com ela, a solidão, que me perdi de vez. Bebemos juntas, falamos mal do mundo, de seus habitantes porcos, andamos por trilhas escuras de mãos dadas, enquanto observava as luzes de mercúrio espalhadas ao longo da cidade já distante de nós.
Com a solidão, me confessei. Contei meus pecados, minhas impurezas, meus pensamentos mais imundos. Foi com ela que me limpei.
Com a solidão, Enterrei meus traumas. Dores não são adornos de usar. Dores são males. E ela ouviu cada um deles.
E quando percebi, estava com sua imagem na mente, mas a companhia da solidão não me deixava sentir mais a sua falta. Agora somos uma só: eu e ela. Amantes eternas. Desancorei meu navio, joguei fora minha bússola, porque ela aponta pra você e não quero mais te encontrar. Meu prazer agora é: juntas, eu e a solidão, sentirmos o prazer eterno da procura.

Boa sorte,

Annie Mc’findley”

A casa


Ela morava numa casa velha e cercada por campos. Do lado de fora a varanda fria e cheia de folhas mostrava o total abandono- ela não queria mais nada - e o vento que entrava pela janela de madeira quebrada esfriava os velhos móveis de mogno escuro. O café ralo na xícara esfumaçava enquanto ela olhava o céu cinza, o tempo irritado. Era como se a natureza estivesse de luto - e quem sabe não estava mesmo - por que não haveria de estar?
Ela acordava às 4 horas todos os dias, beijava sua querida avó- a quem devia todo amor do mundo- preparava o café, colocava a ração fresca para o cachorro, tomava um bom banho de água quente, ia para o trabalho -roupa simples, jeans, camiseta, um casaco tricotado pela sua avó- trabalhava o dia todo no vilarejo, no comércio local, voltava às 19 horas, e sua avó havia preparado o jantar -sopa, legumes -e as duas tomavam sentadas à mesa de madeira velha, enquanto riam do dia que passara.
Ela, cujo amor saía-lhe pelos poros, agora olhava distante, enquanto se despedia de dona Iolanda, a qual o corpo se estirava pela cadeira velha de balanço. Sim, a natureza devia mesmo estar de luto, tanto quanto ela.
A casa ficou fechada muito tempo. Ela quase não saía, a não ser para o trabalho-que ainda fazia com gosto. Morava numa casa simples, e sua vida era cheia de cor. Agora sobraram as lembranças de seu álbum velho de fotografias, uma casa impregnada de memórias dolorosas, e a companhia do vento, que sempre entrava pela janela.